Me
perguntou se está tudo bem, e eu disse que sim. É claro. Se eu digo que não, já
ouço aquele "ahm", que significa "de novo, lá vamos
nós...", como se a única coisa que eu gostasse de fazer da minha vida
fosse discutir cada problema que aparece.
A verdade
é que eu gosto de conversar. É opinião unânime que as pessoas devem dizer o que
sentem, principalmente quando uma outra pessoa está agindo de uma forma que
entristeça a outra. Aí é necessário que as duas partes entrem num consenso. Ok,
eu entendo que comigo isso se transformou em rotina, mas porque nenhuma das
conversas deram em nada. Tudo na mesma. Eu gosto de tentar resolver os
problemas. Mas isso é impossível quando a outra parte deixa claro que detesta
isso, e prefere fingir que não aconteceu a conversar sobre as coisas e saber
onde um e outro estão errando.
Só que
chega um momento onde tudo se acumula. Eu sou como um balão, vou inflando e
inflando, até que chega um momento que o espaço acaba. Aí eu me torno uma
pessoa rude e má. E eu detesto isso, mas, como ser humano, não tem como eu
sofrer as bordoadas da vida e não querer retrucar.
Onde tudo
começou?
Foi uma
semana difícil...
Acho que
foi pelo próprio fim de semana. Quando eu fiquei sem saber se devia ir atrás ou
ficar quieta no meu canto, porque deixou claro que era um dia pra estar
sozinho. Aí eu entrei em curto. As duas possibilidades pareciam ruins. Passei o
dia me corroendo com isso.
No resto
da semana, as coisas ficaram meio repetitivas.
Mensagens
que nunca foram enviadas, quando havia totalmente a possibilidade de serem.
Desatenção, talvez? Eu sou chata, implicante, irritante, e tudo o mais. Mas
tenho consciência que dediquei alguns segundos da minha manhã ou da minha noite
pra mostrar que lembrava e me importava. Isso antes de tudo isso acontecer,
claro.
Aí eu sei
que vai aparecer o argumento: mas, e as ligações?
Bom,
monólogos intermináveis, com muita impaciência e interrupções para fazer outras
coisas, além de as ligações serem péssimas, mal dando pra ouvir qualquer coisa.
Mas isso não justifica todas as vezes que desligou sem se despedir, e nem pediu
desculpas por isso, quando ainda tinha sinal. Quando aparecia uma oportunidade
pra eu falar, interrupções constantes, como se o que eu tivesse pra dizer não
fosse nem um pouco importante. Ainda, eu alertei pra problemas por causa das
ligações, mas não quis me ouvir. E quando esses problemas se mostraram
verdadeiros, culpou a mim. Eu, que confiei quando disse que ia ver e tava tudo
sob controle...
Fui
chamada de mentirosa novamente porque não lembrava ao certo de coisas que
aconteceram a quatro, cinco anos atrás, como se tivesse algo pra esconder desse
tempo...
Brigamos
porque quis conversar pra resolver as coisas, e, como sempre, nada se resolveu,
só pareceu que eu só quero colocar limites pra me sentir poderosa. Acho que
toda mulher, homem, ser humano, quer se sentir especial sozinho. É opinião, e
tenho certeza que compartilha dela, que toda vez que falamos de outro ser do
sexo oposto ressaltando suas qualidades, o ciúme se acende perigosamente. Ninguém
quer ser lembrado que o outro tem olhos e pode olhar pras pessoas na rua e ter
pensamentos sobre elas... Mas, beleza. Vamos deixar isso pra lá.
Ah, essa
também não é tão importante, mas eu preciso mostrar porquê de tanta indignação.
Conversas
abandonadas. Se encaixa no "o que eu tava dizendo não parecia
importante". Eu falar, e, de repente, troca de assunto, talvez porque seja
mais importante. Depois dizem que eu não falo nada, não tenho opinião, não
desenvolvo assuntos...
Agora eu
vou falar do assunto mais delicado: urubus.
Essa
semana também foi a semana de encher a cabeça de caraminhola. Já tínhamos
conversado a respeito, mas aí, veio o empurrão de novo. Gente querendo se fazer
de importante. Aí eu pensava: ela tá querendo se fazer de importante, ou será
que ela foi tratada como se fosse importante? Lógico que eu fiquei com a
primeira opção. Mas, mesmo assim, a coisa ainda fica feia. Porque nenhuma
atitude foi tomada. Nenhuma explicação, nenhum pedido de desculpas, nenhuma
medida tomada contra essa pessoa. Talvez, ela seja importante mesmo...
Como
diriam todas as mulheres do mundo: ai, se fosse comigo isso...
Me disse
que eu sou muito ingênua e isso é perigoso por causa dos outros caras. E aí?
Foi pego nessa armadilha que me disse pra ter cuidado. Ou acha que isso
acontece só com mulheres?
As
mulheres, quando querem algo com um cara, são muito piores do que os homens.
E nosso
aniversário, ficou ao léu... Como se sentir feliz e comemorar, se a única coisa
que te dá vontade é de gritar?
Bom, é
isso.
Não sei
se foi por simples desatenção, se eu não tô merecendo mais o amor de ninguém,
se eu perdi a importância... sei lá. Espero um dia saber. Talvez o erro tenha sido meu...
E eu sei
que eu errei e muito também essa semana. Mas, como demonstrar carinho, amor e
atenção, quando se está ocupado demais refletindo sobre tudo isso?